Meu melhor amigo de infância
Que desde então não revejo
Após sessenta anos de separação
Permanece ainda pequeno.
Tal qual aquele que recordo e sonho
Embora seja um tanto apagado
Um fantasma tirado da foto única
Que restou-me da turma do primário:
A mecha curva de cabelo caindo-lhe à testa
A boca precipitando a falar algo...
Ficou me dizendo tantas coisas...
Reconheceria-o hoje?
Casou-se? Tem filhos? Netos?
A mecha persiste?
Morreu?
Eternamente criança
Correndo atrás de uma pipa que escapou ao vento
Pelos vales recônditos da minha
memória falha
(Uma relva coberta aqui e ali
Com enxertos de imaginação)...
Eternamente criança
Até que o acaso ou um deus alegre
Nos faça cruzar um com o outro pelo caminho
Na faixa de pedestre
Ou na sessão hortifruti
Ou durante o banho de sol no jardim do asilo...
E todo o espaço ocupado pela ausência se comprima
E toda a carga degradante dos anos se dissolva
Através de um brilho dos velhos olhos de menino
Súbito, se revelará - Juliano!
Meu melhor amigo de infância.