sábado, 24 de fevereiro de 2018

CALENDÁRIO

Lá se vai mais um domingo
Caindo com o fim da tarde.
Nada fiz
Senão esbanjar tempo
Como o gato que acorda
Despreguiçando-se num gesto largo
Pra prorrogar a sesta.

E amanhã tudo retorna de novo:
Os mesmos passos
As mesmas pernas
Os mesmos remendos no asfalto
Por onde irá passar, em fila
A marcha de tudo
A caminho do nada.

(Tudo roda, gira e translada -
Os ponteiros, os astros
E os transportes nauseabundos
Movem-se conectados
Pelas mesmas engrenagens.)

Mas não penso nisso.
Tampouco sobre o frescor do líquido a descer pela garganta...
Não sei exatamente em que penso
Enquanto meus olhos passeiam
Pelos números do calendário
Pendurado na parede da cozinha.

Apenas deixo mais um copo sujo no fundo da pia
Onde vão se acumulando
Desordenadamente
Como um novo jogo de tabuleiro
Cuja regra é não haver lógica
Cuja lógica é não haver regra.