segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

ANO NOVO

de novo o sono
de novo a fome
de novo o caminho
de novo o movimento
o mesmo movimento
o movimento de ir e vir
o movimento de vai e vem
translação 
vai     vem     vai      vem
e então de novo o gozo
no fim do dia
ao tirar o tênis 

é isso:
é tudo masturbação
(cheguei à idade em que se percebe isso)
é tudo uma grande punheta
uma punheta de pau mole
não. mole, não: meia bomba, vai
meia bomba

depois, talvez, seja preciso alcançar outra certa idade
a idade da sabedoria
na qual se consegue extrair
uma gotinha de prazer destilada
de uma piscina cheia de porra

de novo uma estrela morre
de novo uma estrela nasce

feliz 2024

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

CABELO

Corta o cabelo
Corta
Como quem os pulsos corta
Como quem amputa um membro
Partes fios do corpo excesso
Que a vida parece estar em excesso
E é preciso drená-la você diz

Corta o cabelo
Corta
Como quem corta a dor
Com mais dor:
Dói de ver
Cultivados com esmero
Toneladas de tempo shampoos
E condicionadores
(E a condição é que ao serem abatidos
Caiam com estrondoso pesar)

Corta as amarras
Esfolia a face
Poda as unhas
E se desmonta em partes unhas por aí
Que grande parte da poeira do mundo é feita de pele morta (da sua pele morta)

Mas de repente o vento é um pente
Que melhor lhe ache a cabeça categoricamente 
Eu lhe direi
De repente meus dedos são até melhores que o vento
Melhor que o melhor pente que se possa comprar
E você sinta-se com eles os meus dedos leves muito leve
Courocabeludamente

Que tal um pedra papel tesoura pra passar o tempo você sugere
Mas há pedras que cortam
E papéis que cortam ainda mais oh se cortam
E a lâmina da sua tesoura embora cega corta tudo tudo
Até todo o seu lindo cabelinho 
Porque é forte e fraca
Porque o cabelo é nada e tudo
Do que você está falando
O que é forte o que é fraca
Desculpem não usamos interrogação 

Vamos conversar
Vamos passear
Vamos
Pelas praças e os jardins dos outros onde as flores são mais bonitas
Você me aponta as flores para que eu lhe diga os nomes
Me aponta a coruja sonsa no poleiro pronta pra dar o rasante
Me aponta a mim mesmo tocando meu nariz como que pra me situar que
Eu to aqui

Enquanto isso seus cabelos crescem de novo
Sem que você os perceba
É só cabelo
E crescem a ponto de tocar o chão 
E eu já posso ver você arrastando-os pela casa
Fazendo-os misturar à terra à grama às poças de chuva do nosso quintal
Às frutas que caíram das árvores do sítio que visitamos semana sim semana não 

É só cabelo
São só fios
Finos frágeis pálidos 
De uma palidez fantástica 
De uma palidez assombrosa

Fino frágil e pálido
Como a linha do tempo que marca todo o tempo que passamos juntos.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

P R I S M A

não me leve a mal
não me leve 
ao fundo no fundo
o mar é turvo e não 
se enxerga nada não 
me deixe confuso me deixe 
aqui quieto eu só 
quero ver as ondas
eu só quero ver a praia
a praia que é mais 
pra todos e menos 
pra mim que é de toda criança 
e das gaivotas 
eu 
só quero ver a praia a mesma praia 
que deságua em preto 
e branco
nas retinas de qualquer cachorro

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

LÁPIS DE COR

Nas pontas afiadas dos lápis de cor as cores 
Anseiam em desempenhar seu papel no papel
Na parede no chão na mão
Da menininha que sem se preocupar com a forma saberia 
Imprimir de alguma forma o mais
Legítimo ato de libertação

Gasto as solas dos sapatos gasto
Os olhos os ouvidos e a língua gasta
Gasto as unhas e os dentes a pele em atrito com
O ar eu gasto e
Do meu corpo a morte provará não mais que o gosto do doce pó

E iriam-se contentes estas cascas de madeira salpicadas de cor restos 
Mortais sepultados no reservatório 
Do apontador e ririam- 
Se contentes os rabiscos soltos por serem 
Naturais e imprevisíveis como seres 
De asas-pó

Mas é fantasia minha nunca voei

Os cadernos de desenho permanecem todos novinhos
Em folha os lápis de cor me encaram o canela 
O cereja o ocre inclusive o royal todos
Em riste aguardam tristes e inteira-
Mente desapontados comigo

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

GRAVIDADE

Sobre a balança do banheiro
Sobretudo um sobrepeso
A sobressair-se da carne e do osso:
Este músculo mal exercitado
Quer chamar a atenção pra si
Com a ponta de uma faca!

Será que é grave?

Hoje, pela primeira vez, considerei
Sobrehumanamente
O peso do meu coração.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

NEBLINA

O futuro é nebuloso.
E isso não me incomoda de forma alguma.
Na verdade, encaro-o até com olhar contemplativo...
Já não questiono. Aprecio.
Aprecio o mesmo cenário todos os dias
Porém, às vezes, ele amanhece parcialmente oculto
Encoberto pela neblina.

Sempre gostei de olhar a neblina.

Sim, sim, eu sei:
Sozinha, a neblina é nada.
É só fumaça, vapor, nuvem
Um acessório que a natureza, caprichosa, veste 
E, então, desveste
Sem qualquer afetação...

Sim.

No altar, ao levantar o véu
Eu não espero ver nada além do que seu rosto.

sábado, 1 de julho de 2023

O BEIJO

Em algum fundo de quintal
Durante uma brincadeira inocente
Mãozinhas irão se esbarrar
De um jeito todo diferente...

E da confusão dos sentidos
Onde o anseio prevalece
Servirão de combustível pro mundo
No beijo que não acontece.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

ROMA

Vou a Roma.
Porque nunca pensei em ir a Roma.
Porque, às vezes, é bom fazer o impensável...
E, hoje, esta foi a primeira coisa que não pensei: 
Ir a Roma.
Agora vou me agarrar a esta ideia
Fazer de Roma o principal objetivo a ser alcançado.
Enquanto isso, quero sonhar com Roma
Com o Coliseu, o Panteão
O Vaticano, o Templo de Saturno
A Via-Sacra, as catacumbas de São Calisto...

Roma...

Sinto que já somos íntimos.
Sinto... como se tivesse sido sempre meu lugar favorito.
Talvez, em outra vida, tivesse nascido em Roma
Morado em Roma
Morrido em Roma...
O fato é que não existe nenhum lugar onde eu queira estar agora
Senão em Roma.

Roma, quero sua cidadania, sua nacionalidade
Sua naturalização.
Ninguém é mais italiano que eu.
Nenhuma pátria é mais de alguém
Do que a mim a Itália!
E eu sou seu fiel
Seu soldado romano
Pronto a dar meu sangue, minha vida
A proteger seu império!
Calígula, Enéas, Gaius, Stefano
Beijo-os todos a boca
Com o hálito dos seus vinhedos -
Dos nossos vinhedos -
Porque, Roma, minha língua sempre foi sua
Sempre será sua
E di tutte le muse 
Che devono ancora essere evocate.

Já não tem mais volta:
Sto arrivando!
Eu vou a Roma.
Vou voltar para Roma.
Remorrer em Roma
Renascer em Roma...

Sim, está decidido:
Vou a Roma!

segunda-feira, 26 de junho de 2023

CAFÉ DA MANHÃ

Às manhãs o sol se põe à sua mesa
Sobre a manteiga, a geleia, o pão de centeio...

Entre nossas janelas, a rua
O trânsito de carros, de pombos
De gente...

Mas, daqui posso ouvir seu silêncio 
Enquanto fecha os olhos e sorve o líquido quente.
Depois abre os olhos (ou não os abre)
E posso ver seu olhar atravessando prédios
Bairros
Cidades inteiras...

Eu jamais seria notado
Mesmo que acenasse.

Todos os grandes mistérios do universo se evaporaram 
Pra saber o que tem na sua xícara.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

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MUSA

Me debruço prestes a cair na água.
É deste rio que tiro meu alimento.
Um dia, quando eu souber nadar
Usarei todas as minhas forças para chegar à nascente.
E diante da sua boca
Eu vou me entregar
Como o mais extraordinário dos peixes.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

ABORTO

Apequeno
Murcho
Séco.
Quero colo
Quero útero 
Um abraço demais apertado
Envolvido em águas-vivas.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

MÍMICO

Não minto: finjo.
E de fingir me perco
Peças caídas
Soltas por aí
Quem sabe, em outrem.

Quanto de mim ainda me resta 
Originário do nascimento?

Peguei seus trejeitos
Seu texto
Seu gosto
E tudo o mais que pudesse reposicionar.

Final das contas:
Sou mais ou menos eu?

Me pergunto como se lhe perguntasse
Portanto, não falo mais por mim -
Aliás, o que você diria?
Hem, o que você diria?
Eis o próximo passo:
Tomar-lhe a consciência
Fazê-la dirigir-se a mim como se dirigisse a si própria
Fazê-la pensar alto
Fazê-la pensar que trata-se apenas de um monólogo...

É isso.
Eis aí o meio arranjado.
Eis aí a possessão:

Eu sou mais você.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

OUTRAS NUVENS

Àquela altura da vida
Seriam elevados às nuvens
Pela primeira vez.

O destino já não importa.
Tudo era expectativa.
Tudo era novidade.
Tudo era turbulência.
E se cair?
Tragédia ou privilégio
Por morrerem os dois juntos?

Mas não demorou.
As mãos logo se desapertaram
Os corações se acalmaram.
Era só uma questão de perspectiva:
Nuvens eram só nuvens
Telhados eram só telhados
(Ou, talvez, uma enorme colcha de retalhos.)

Àquela altura já era permitido sorrir
Um sorriso solto, desapegado
De trocentos paraquedas reservas.
E foi assim, sorrindo
Que se voltaram um ao outro
Como que de repente.
Não era a primeira vez
Era só uma questão de perspectiva:
Tinha um quê de terreno
Sólido
Enraizado.
Sim, eram as rugas
As raízes 
Longas raízes 
Quilômetricas raízes 
Expostas
Esticadas
Presas
Ligadas...

Iam do avião ao chão.

terça-feira, 30 de maio de 2023

ATRAÇÃO

Transatlântico ao largo
Ameaça mudar o curso
Mas retoma o caminho.

Era só um pedaço de ímã
Enterrado no banco de areia.

Era só eu.

domingo, 28 de maio de 2023

UMA QUESTÃO SOLÚVEL

Estas lágrimas aqui
Se é você quem as produz
Devo chamá-las de minhas
Ou suas?

FÓSSEIS

Jamais sairei daquele abraço.
Sinto-o ainda agora, concreto.
Por favor, tratai-nos com esmero
Senhores futuros arqueólogos.

sexta-feira, 26 de maio de 2023

TERCEIRAS INTENÇÕES

Quando vi, o toque não era suficiente.
Tampouco necessário.
Segundas intenções?
Não. Já não passava pela minha cabeça
Nem por nenhuma outra parte do meu corpo...
Era outra coisa
Maior, ou menor, não sei...

Eu queria entrar
Ocupar
Pertencer:
Ser 
Como suas entranhas.

quinta-feira, 25 de maio de 2023

UM PAÍS GELADO

Bom é ter onde não poder ir.
{A realidade dos sonhos depende disso.}

Noites de verão 
Quarto abafado
E o corpo arrepiado
Com a neve que eu nunca vi.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

TELAS EM BRANCO

Feito
Constantemente refeito.
Acabado
Pra sempre inacabado.

Doce inutilidade das horas.
Pores do sol indispostos.
É o meu gato enrolado em si
Feito nó 
Que ocupa minha cama
Mergulhado na tarde que é só dele.

E entre a vontade e o propósito
Um homem útil e vil
Encontrou camuflada a paz
No vazio das realizações:

Saber fazer basta
Para não fazê-lo .

quarta-feira, 26 de abril de 2023

sábado, 8 de abril de 2023

SONHEI

Sonhei
(Outra vontade inventada)
Sonhei que eu era outro:
O verdadeiro.
E eu até que era razoável
Tinha um jeito de andar, de falar, de estender a mão...
Ao acordar
Vesti a roupa nova que tinha
E saí.
Tentei me imitar, ser igual no sonho
Mas já não estava certo se fazia direito...

Era disso, então... -
Uma ideia rápida que veio e sumiu -
Era disso que se tratava
Meu choro ao nascer.

quarta-feira, 29 de março de 2023

A barata e a borboleta

E então a barata e a borboleta se olharam.
Uma nunca tinha visto a espécie da outra.
Olharam-se com receio, curiosidade...
Depois ficaram maravilhadas 
Ao ver que se tratava de um espelho.

segunda-feira, 13 de março de 2023

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

O ESCULTOR

Preencho a ausência com a forma 
Manipulo a matéria, transformo
Dou volume e dimensão
Sou um escultor.
Com o movimento involuntário dos dedos
Cinzelo, moldo, talho e fundo
A qualquer distância 
As obras mais fantásticas que o mundo jamais viu
Desde a fisionomia maléfica no tronco das árvores 
À fauna transitória de nuvens...

O que são os sonhos, afinal
Senão esculturas?
E eu esculpo até enquanto durmo
Monumentos, catedrais, cidades inteiras
Pessoas durante o passeio
Um corpo colado ao meu
Encarnado num travesseiro extra...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A PEDRA

Não quero mais nada, já tenho tudo que preciso, incluindo as adversidades. Sonhos? Nenhum. Durmo bem. E quando tenho insônia, vai bem também. Por mim, ficava aqui, de longe, pra sempre, sem ser visto, assistindo essas crianças que se divertem em jogar pedra no lago...

Sem qualquer conhecimento em aerodinâmica, um dos garotos (são dois) escolhe a pedra perfeita apenas pelo tato e calcula sem matemática velocidade, ângulo e giro... Em suma, sabia simplesmente que era preciso acertar o lago sem atingi-lo. E então um, dois, três, quatro, cinco... seis... Seis vezes a pedra quica na água antes de, blupt, ir direto para a eternidade profunda... sombria... gelada... O garoto vibra com seu feito. Mas é tarde. Os dois juntam suas coisas e partem. 

Estou agora onde os garotos estavam.
Em pé, muito ereto e imóvel, fito os arcos que se propagam e se dispersam...

Meu pensamento é vasto, muito rico. E vazio.

Que dia extraordinário teve aquela pedra.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

DOIS PEIXES NO COPO D'ÁGUA

Chego em casa evitando olhar diretamente na direção onde algo se mexe. Está vivo.
Faço minhas coisas até chegar a hora de alimentá-lo. Faço-o, sem olhá-lo, apesar de o vidro e a água serem transparentes...
Amanhã, digo-me, amanhã compro o aquário, enquanto alguns grãos são abocanhados e outros afundam com leveza e pesar, como areia na ampulheta...

Difícil saber se um peixe está contente. Não são como os cachorros que simplesmente abanam o rabo... 

Talvez esteja contente...

Pois, faz alguns dias, talvez meses, talvez anos, que o trouxe comigo num saco plástico, e, não tendo em casa um aquário ou coisa que o valha, pus ele dentro do copo, somente até o dia seguinte, onde lhe compraria o aquário... O aquário!

A ideia era legítima e sincera, comovia-me, deixava-me contente, ansioso pela chegada do amanhã, onde lhe compraria o aquário... Sim, o aquário!

Amanhã serás feliz. Apenas aguarde. Terás uma bela de uma surpresa, amigo! Ah, um belo de um... aquário...

Muitos amanhãs vieram e jamais comprei merda de aquário nenhum. Deixando sempre pra última hora ou me esquecendo. Ou por preguiça. Ou por não ter dinheiro. Ou... por um motivo que eu não saberia descrever... Ou talvez saiba mas não queira... Sim, não queira. Não quero:

Não compro o aquário porque não quero.

Se sinto pena? Claro que sinto. Muita pena. Dói-me vê-lo assim... dando voltas em torno de si... Imagino sua felicidade ao poder esticar as barbatanas, ao dar disparadas e cabriolas de um lado a outro em um aquário olímpico...

Vergonha? Sim, claro, tenho vergonha, muita vergonha... Vergonha pelas vezes que cheguei em casa querendo encontrá-lo boiando de barriga pra cima... E, assim, livrá-lo da sua prisão, e eu...
Mau? Eu? Eu não sou mau... Veja como meus olhos se enchem d'água ao imaginar a cena em que dou-lhe cabo ao som da descarga...

Não choro por nada que não seja este peixe. E já fazem anos, como eu disse... Anos que ele, o meu choro, resiste... ao peixe...

Amanhã: Luzes, algas, conchas...

Amanhã: Pedras coloridas, bolhas, mergulhador...

Amanhã: Baú que abre e fecha com uma pérola dentro... 

Amanhã: Surpresa! Outra pérola. E depois outra pérola, e depois a mesma pérola e quem sabe outro peixinho para fazer-lhe companhia, ou, melhor: o lago, o rio, a praia, o mar, o oceano inteiro, onde quiseres ir...

Agora, sério: vou apagar as luzes. Vamos dormir. Que assim o amanhã não tarda.

Amanhã trarei-lhe um aquário.

domingo, 8 de janeiro de 2023

ENTREMEIO

Entre pernas, um cão. Com o rabo pedinte procurava algo no rosto das pessoas, sem achar.
Um estalo de dedos fê-lo vir a mim. Ofereci-lhe a mão, ele a cabeça. Depois olhou-me muito nos olhos (ou fui eu quem olhou muito os dele) e foi embora... 
Não, eu fui embora. Meu ônibus havia chegado.

Ah, sim, era cadela. Soube enquanto subia os degraus... Enquanto... o que poderia ter ela sabido sobre mim antes da barricada de gente nos dividir e das portas se fecharem?

Não sei dizer ao certo o que se deu. Ou o que se perdeu. Houve troca, isso eu sei, e é capaz que nenhum de nós tenha saído ganhando...

Antes que o ônibus virasse a esquina, procurei ainda, entre uma brecha de cabeças, avistar minha amiga pela última vez... Não achei.

Entre aperto e solavancos eu me segurava pra não cair. Segurava firme, embora a mão direita ainda sentida acariciasse o pelo curto, negro, liso, com muita suavidade... Muita suavidade...

Entre aperto e solavancos.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

ÓCULOS PRA LONGE

Minha vista já não é mais a mesma.
Vez ou outra me pego apertando os olhos...

Devo me render aos óculos?

Mas se o esforço maior é de enxergar quem eu era...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023