segunda-feira, 30 de outubro de 2023

LÁPIS DE COR

Nas pontas afiadas dos lápis de cor as cores 
Anseiam em desempenhar seu papel no papel
Na parede no chão na mão
Da menininha que sem se preocupar com a forma saberia 
Imprimir de alguma forma o mais
Legítimo ato de libertação

Gasto as solas dos sapatos gasto
Os olhos os ouvidos e a língua gasta
Gasto as unhas e os dentes a pele em atrito com
O ar eu gasto e
Do meu corpo a morte provará não mais que o gosto do doce pó

E iriam-se contentes estas cascas de madeira salpicadas de cor restos 
Mortais sepultados no reservatório 
Do apontador e ririam- 
Se contentes os rabiscos soltos por serem 
Naturais e imprevisíveis como seres 
De asas-pó

Mas é fantasia minha nunca voei

Os cadernos de desenho permanecem todos novinhos
Em folha os lápis de cor me encaram o canela 
O cereja o ocre inclusive o royal todos
Em riste aguardam tristes e inteira-
Mente desapontados comigo