Mas eu fui, mesmo sem saber nadar
Mesmo com a água batendo nos tornozelos
Mesmo com a rejeição das ondas
Mesmo com uma mão adulta me segurando...
Depois mantivemos distância
Alimentei o medo e a veneração.
Jamais questionei sua maldade, seu esplendor.
E por todo esse tempo não fiz nada
A não ser emergir em busca de fôlego
Ascendendo por uma escada cada vez mais alta
De encontro ao trampolim.
Acovardei-me.
Na falta de abismos oceânicos
Recorro às piscinas públicas
Às banheiras dos motéis -
Meros prazeres paliativos
Onde um braço ou qualquer outro membro flácido do corpo
Possa confrontar a gravidade, flutuando
Independente da minha vontade.
Não vá para o fundo... Não vá...
Alguém, da praia, apertando os olhos, pensou ter visto um pontinho escuro
Muito além da arrebentação, distanciando-se com a maré.
Duas crianças passaram correndo obstruindo brevemente sua visão.
O pontinho havia sumido. Ninguém se importou.
Cansado
Sou como qualquer outra pessoa que busca passar as férias à beira d'água.
Mas eu acumulo cansaços de vidas passadas
E almejo férias de vidas que estão por vir
Mesmo que o porvir seja por demais fatigante de supor.
E a minha sede por descanso é tão desesperada quanto juvenil
Como a garganta que não comporta o mar e engasga
Como no dia em que achei que eu fosse me afogar com meu próprio fluído amniótico.
Por enquanto, deixe que eu seja patético
E durma sob o artifício de luzes espectrais
Projetadas no teto do quarto, tal qual água
Para me embalar aos sonhos dos peixes...
Foi assim que descobri que os peixes sonham em ser gente.
Gente essa que caminha tranquilamente em direção ao rio
Com os bolsos do casaco cheios de pedras.