Seria o mesmo rosto de sempre, que há pouco havia encarado enquanto me barbeava como em tantas outras milhares de vezes, senão por algum detalhe estranho que só pude então atentar quando estava menos atento: cara lavada, enxugada, pronto a apagar a luz e deixar o banheiro, quando, no último instante, prestes a nos separarmos, o olhar - aquele olhar de soslaio, à espreita - me puxou de volta pela borda do espelho. Pescoço esticado, cenho franzido, perfil esquerdo, direito, queixo projetado... Sim, sem dúvida, havia algo de estranho. Talvez fosse pontual, talvez fosse o conjunto todo da cara, não sei, mas havia algo de canalha, de mazelento, de escarninho, que ia além das novas rugas, das olheiras, da calvície...
Então, notei. Sim, claro!
Com os músculos da fronte a afrouxarem-se pacificamente como um lindo desabrochar de crisântemos brancos brotando pelos poros afora... Notei.
Era ela:
La Muerte.