sábado, 21 de setembro de 2024

DO ANCORADOURO

Daqui - do ancoradouro - vejo e percebo:
O mar manifesta minha ânsia em ondas.
Sim, aquela onda só existe por minha causa
Nasceu com uma ideia acanhada
Embalou-se por alguma vontade incerta 
Até ganhar força, enrolar-se, desenrolar-se
Tornar-se, irrevogavelmente, onda.

E eu, o que me tornei? Nada.
Irrevogavelmente nada.
As ondas só existem pelo o que não sou
E se eu deixasse de olhar o mar
Ele seria algo parecido com um rio.

Tudo bem.
Morro espraiado
Realizado aos pés de uma criança.
Explodo na pedra do cais
De uma alegria incapaz de se conter.

Lá vem mais uma...
Mais uma onda...
Graças a Deus
Ondas... Projetos... Protótipos...
Graças a deus?
Não, graças a mim.
Graças a minha mania de lavar as mãos 
Não há areia por entre os dedos a escorrer.

E olha lá o surfista... praguejando
Boiando sobre a prancha... Esperando...
Esperando...
Que dó, nem imagina...
Tá, toma, vai. Surfa aí 
E não me enche o saco.

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